O ano de 2019 começou de maneira desastrosa. Passados apenas o mês de janeiro e alguns dias de fevereiro, já era possível elencar, pelo menos, três acontecimentos trágicos que ganharam repercussão nacional e até mesmo fora do país: o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho/MG (entre mortos e desaparecidos, somam mais de 300 pessoas), os alagamentos no Rio de Janeiro (7 mortos) e o incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo (10 mortos).
Dentre os casos mencionados, Brumadinho é o mais trágico, quando se leva em consideração o número de mortos. O desastre é, na verdade, uma espécie de repetição do que aconteceu em Mariana três anos antes. Assim como em 2015, um amontoado de lixo industrial (ao qual se convencionou a chamar de lama) devastou cidades, destruiu rios e deixou um longo rastro de destruição. Foi um prejuízo incalculável, pois além das famílias afetadas diretamente com a morte de parentes, a população que vive no entorno da área ficou impactada de inúmeras formas. Além do mais, quando há a perda de um bem ambiental e da biodiversidade contida nele, toda a humanidade, indiretamente, sai prejudicada, pois essas áreas jamais serão como antes.
Aqui cabe mencionar um infeliz clichê, de que o crime (pelo menos o ambiental) no Brasil compensa, pois, a Samarco, empresa ligada à Vale S.A. e causadora do desastre ocorrido em 2015, não pagou, até o início de 2019, nenhuma multa pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana-MG. Na verdade, isso mostra apenas a nuance de um Brasil que dá muitas brechas para que os ricos e poderosos não sejam responsabilizados por seus atos. Devido a esse desprezo com o Meio Ambiente, algumas empresas preferem correr o risco de serem eventualmente penalizadas com possíveis ocorrências, já que, no final das contas, não resultará em nada.
No que diz respeito aos deslizamentos causados pelos temporais no Rio de Janeiro, da mesma forma, é possível falar na omissão de quem deveria “cuidar das pessoas”, como anunciava em campanha o atual prefeito Marcelo Crivella. É que, no caso específico de uma cidade, a prefeitura deveria investir em infraestrutura e estar atenta a qualquer evento que pudesse afetar a vida dos cidadãos. E o Rio é, sabidamente, uma cidade acidentada, cheia de morros e que, além do mais, enfrenta, periodicamente, grandes temporais. Mas, ainda assim, o que se verifica é que a prefeitura reduziu em 77% os gastos com controle de enchentes nos últimos cinco anos.
Em relação ao caso dos meninos do Flamengo, foi uma tragédia emblemática. Dez jovens perderam suas vidas nas instalações do time de maior torcida do país (torcida da qual faz parte, inclusive, o cronista que vos escreve). Esses meninos tinham toda uma vida pela frente, poderiam se destacar no futebol, poderiam se tornar ídolos do clube. As famílias, algumas de outros estados, tiveram que enfrentar a dor da perda dos filhos… De maneira particularmente tocante, a mãe de uma das vítimas (Arthur Vinícius, de 14 anos) é viúva e enterrou seu único filho.
Por outro lado, esse incêndio chama a atenção pela forma como um dos maiores e mais ricos clubes do Brasil trata seus jovens atletas, em instalações que deixam a desejar na questão da segurança e foi verificado, inclusive, o uso de “gambiarras” nos aparelhos de ar-condicionado, justamente onde teria começado o fogo. Além do mais, há indícios de que nas paredes dos contêineres houvesse a presença de poliuretano, material inflamável, bastante conhecido por ter servido de combustível no incêndio da Boate Kiss, em 2013, que matou 242 pessoas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fica a esperança de que o caso seja apurado e que os responsáveis sejam rigorosamente punidos, até mesmo para que sirva de exemplo aos outros clubes brasileiros.
E de tragédia em tragédia, a história vai, tristemente, se repetindo. São casos e mais casos, alguns de menor repercussão, como o incêndio no galpão da Usina de Belo Monte, no Pará ou o incêndio que atingiu o alojamento do Bangu, um outro clube de futebol carioca, ambos os casos ocorridos no dia 11 de fevereiro, mas que, felizmente, não deixou nenhuma vítima fatal. Aliás, nessa segunda-feira ocorreu, também, a trágica morte do jornalista Ricardo Boechat e do piloto do helicóptero em que ambos seguiam.
Os acontecimentos citados neste texto chocam de maneira distinta, cada um pela sua peculiaridade, mas todos os casos têm um ponto em comum: eram absolutamente evitáveis e ocorreram devido à irresponsabilidade ou omissão de alguém ou de alguma empresa. Nenhum dos eventos ocorridos era absolutamente imprevisível, portanto, nenhum deles foi acidente (excetuando-se, talvez, ou não, o caso de Boechat). “Torçamos” (e lutemos) para que não haja mais tragédias neste ano. E aqui, refiro-me, inclusive, àquelas de ordem social, defendidas pelo governo em exercício.
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/02/11/incendio-atinge-usina-de-belo-monte-no-pa.ghtml
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