A eleição acabou. A luta apenas começou!

“A democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”, teria dito o primeiroministro britânico Winston Churchill (1874-1965). A democracia brasileira, especificamente, tem falhas bastante consideráveis, mas isso só faz com que os que se consideram verdadeiros democratas lutem para aperfeiçoá-la, nunca para extingui-la.

Em 28 de outubro de 2018, Jair Messias Bolsonaro foi eleito o 38° presidente brasileiro, com quase 58 milhões de votos. Foi o escolhido pela maioria e, gostemos ou não, será o presidente de todos. Devemos ter consciência de que nem sempre ganha aquele em quem votamos e isso faz parte da democracia. Uma atitude sempre nobre por parte do lado derrotado é reconhecer a vitória do candidato eleito, o que Fernando Haddad fez de pronto, no mesmo dia da eleição. Suspeita-se, no entanto, que Bolsonaro não tivesse feito o mesmo, caso tivesse perdido, pois em mais de uma oportunidade pôs em xeque a idoneidade do processo eleitoral e, no primeiro turno, vários de seus eleitores divulgaram vídeos mentirosos nas redes sociais, com infundadas denúncias de fraudes nas urnas.

Deve-se frisar, no entanto, que há um receio (alimentado pelos reiterados discursos do próprio Bolsonaro) de que possamos vivenciar um governo autoritário, com restrição às liberdades individuais e coletivas. Podemos ter um governo que ameace a laicidade do estado (que, convenhamos, nunca foi muito respeitada), que coloque em risco a integridade das minorias, que desrespeite os direitos humanos, que persiga opositores (os marginais vermelhos, que devem ser banidos) e que possa colocar em risco o próprio processo democrático.

Reiteramos as imperfeições da democracia brasileira e podemos citar, por exemplo, a forte presença do poder econômico, já que cresceu para 388, em 2018, o número de deputados estaduais milionários eleitos. Infelizmente, costumam ser eleitos com mais frequência os que realizam campanhas mais caras. Outra distorção considerável é a questão das notícias falsas, as famosas Fake News. Esse problema pode ter interferido de maneira decisiva nas eleições brasileiras deste ano, assim como já havia sido observado nas eleições dos Estados Unidos e no referendo do Brexit, ambos em 2016.

Para aqueles que valorizam a democracia, foi um grande retrocesso ter que presenciar alguns setores da imprensa com uma preocupação constante de que o presidente brasileiro eleito fizesse menção no discurso, logo após anunciado o resultado das urnas, de que respeitaria a carta magna. Eram marcantes os comentários, otimistas, pelo fato de Bolsonaro ter em sua mesa a Constituição e um livro do democrata autor da frase que abriu este texto.

Um outro ponto, também muito importante para a manutenção de qualquer democracia, é a liberdade para se fazer oposição. Ser oposição, neste caso, não significa ser contrário a qualquer medida que venha do governo, mas implica em, por exemplo, lutar contra ações que representem retrocessos sociais, contra retiradas de direitos, contra qualquer ataque à Amazônia e ao meio ambiente, em geral, contra ações que possam nos aproximar de um governo ditatorial e a luta constante em defesa de um país soberano e com oportunidades para todos.

Com relação ao presidente eleito, seguem as movimentações em torno da escolha da equipe que comporá o governo, com a definição de alguns ministérios. Esse processo gera uma série de especulações. De certo mesmo, até agora, temos a triste notícia do fim da parceria com Cuba em relação aos profissionais que faziam parte do Programa Mais Médicos. O fato é deveras negativo, pois muitas cidades pobres poderão ficar sem atendimento, já que muitos médicos brasileiros não querem trabalhar em municípios afastados dos grandes centros.

Sobre as demais decisões do governo, devemos ter cautela e aguardar o mandato, de fato, iniciar. É certo que algumas escolhas de ministros possam ter sido desastrosas ou equivocadas, mas sejamos sensatos e aguardemos o próximo ano. Além do mais, devemos reconhecer que a maioria dos brasileiros escolheram essa maneira de governar. Apesar de tudo, temos a certeza de que aqueles que realmente querem um Brasil menos desigual não se acovardarão e estarão na resistência, nas ruas e nas redes, contra qualquer ameaça ao país. Devemos ficar sempre alertas, pois a eleição acabou, mas a luta está apenas começando.

Como bons democratas devemos torcer, de maneira sincera, que Bolsonaro faça um bom governo. Sabemos que poderão haver muitos retrocessos sociais e que vários direitos trabalhistas e garantias históricas estarão em constante risco. Mas, apesar de tudo que possa vir de ruim, é possível, também, que o governo acerte em tantas outras medidas e cabe aos brasileiros de bom senso ter ao menos a esperança de que o Brasil esteja melhor daqui a quatro anos. Seria insanidade de nossa parte ficar na torcida pelo desastre do país.


https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/2018/10/28/haddad-reconhece-derrota-bolsonaro-presidente-eleicoes-2018.htm

https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/10/10/numero-de-milionarios-eleitos-deputados-estaduais-cresce-no-brasil-mas-patrimonio-medio-cai.ghtml

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