Será que é verdade?

Antigamente as informações eram raras. Para se ter uma ideia, meu avô dizia que, durante a Segunda Guerra Mundial, mal ouvia falar no que estava ocorrendo no mundo, até porque morava no sertão cearense e não tinha acesso a jornais ou mesmo rádio. Tudo o que ele conhecia sobre os acontecimentos daquela época se dava por meio de cartas, ou mesmo quando alguém viajava à capital e ficava sabendo de algo.

Hoje em dia, presenciamos o completo oposto dessa situação. Somos atualizados em tempo real; as informações nos chegam a cada minuto, aos montes, ao simples toque na tela de um smarthphone, na linha do tempo de qualquer rede social. No entanto, esse excesso de informações traz consigo alguns problemas e o maior deles talvez seja a questão da veracidade dos fatos.

As notícias falsas (também conhecidas como Fake News) são produzidas e divulgadas em grande quantidade. De um lado, quem as produz o faz, talvez, por brincadeira ou mesmo por má-fé, neste caso demostrando um grave desvio de caráter. Na outra ponta, as muitas pessoas que as repassam, muitas vezes, são apenas descuidadas e compartilham um link de maneira apressada, no ímpeto de fazer chegar a seus amigos algo que reforce a sua ideologia política, sua visão religiosa ou seu pensamento sobre determinado tema.

Essas Fake News, em geral notícias distorcidas, descontextualizadas ou mesmo completamente sem fundamento, costumam ser muito sedutoras e normalmente se encaixam perfeitamente como argumento para reforçar aquilo que certas pessoas já acreditavam previamente. E, no calor do momento, muitos internautas saem republicando as postagens sem terem um mínimo critério, sem fazerem nem mesmo uma pesquisa rápida para averiguar a veracidade das informações compartilhadas. Como resultado de tudo isso, vemos diariamente muitas informações mentirosas sendo divulgadas, sobretudo nas redes sociais.

Na verdade, grande parte das notícias falsas pode ser facilmente contestada, se for utilizado um pouco de bom senso. Além do mais, a grande maioria dessas Fake News pode ser desmascarada após uma simples busca no Google. Contudo, mais especificamente, existem alguns sites clássicos que ajudam a esclarecer os boatos que circulam na internet, como é o caso do www.e-farsas.com (criado em 2002) e do www.boatos.org (criado em 2013).

Além desses portais mais tradicionais, têm surgido alguns sites no Brasil que visam esclarecer as mentiras publicadas na rede (os chamados fact checking). Na verdade, algumas dessas iniciativas mais recentes (como o Fatos ou Fakes, do G1, e a Agência Lupa, do grupo Folha, dentre muitas outras) têm sido questionadas a respeito da sua própria idoneidade; apesar disso, elas representam uma iniciativa que deve se consolidar ao longo do tempo.

A nós, usuários das redes sociais, resta-nos ficarmos muito atentos a quem publica informação falsa. Se uma página ou algum amigo (aquele tiozão do Whatsapp, por exemplo) tem o hábito de publicar informações inverídicas, por qualquer que seja a motivação, é preciso ser cauteloso ou mesmo evitar compartilhar ou repassar qualquer informação desta página ou pessoa sem uma rigorosa checagem prévia. É que cada perfil nas redes sociais passa a ser, ao mesmo tempo, consumidor e produtor de informação, e não podemos esquecer que nós, enquanto usuário da rede, assumimos a responsabilidade pelas informações que levamos adiante.

Em março de 2018, poucos dias após o trágico assassinato de Marielle Franco, tornou-se muito conhecida a mentira caluniosa que tentava ligar a vereadora a traficantes. Essa Fake News ganhou ainda mais notoriedade por ter sido criada por uma desembargadora do Rio de Janeiro, alguém de quem se esperaria um mínimo de credibilidade. Mais recentemente, o lamentável episódio de agressão ao presidenciável Jair Bolsonaro serviu de combustível para alimentar mais um sem-fim de notícias falsas, de todos os lados.

O fato é que caminhamos de um extremo a outro em relação ao acesso à informação e, ao final dessa caminhada, concluímos que o conhecimento acerca dos eventos que ocorrem no mundo atualmente fica quase tão prejudicado quanto na época em que meu avô era adolescente. E é preciso compreender, mais do que nunca, que credibilidade é algo que demoramos muito tempo para conquistar, mas que podemos perder em poucas postagens.

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