Sobre o que foi escrito

A poesia escrita e publicada soa como oficial.
Um texto revisado e impresso é, de certa forma,
Ainda mais grave do que uma palavra proferida.
Após disparado, não há muito o que fazer,
E sempre fica algo a mais nas entrelinhas…

Assim como uma palavra dita não pode ser desdita,
Também uma palavra escrita não pode ser “desescrita”.
Já pensou? “Eu desescrevo, tu desescreves, ele desescreve”…
Na verdade, acho que não teria mesmo muita graça,
Soaria como algo demasiado efêmero.

Fazer poesia é como responder a uma prova discursiva,
Escrita inteiramente ao traço de uma caneta absoluta,
Sem nenhum corretivo, sem nenhum artifício,
Sem nada que possa eufemizar o que foi dito.

Essa característica exige de nós mais atenção,
Ao mesmo tempo em que impõe um caráter aventureiro
Aos nossos passos, aos nossos textos, à nossa vida…

E, na pior das hipóteses, o que tiver sido, já foi.

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