Diz-me com quem andas…

Mesmo aqueles que dizem não gostar de política, não podem fugir dela, até porque, inclusive a decisão de não ir às urnas, ou de votar em branco ou nulo, continua sendo uma decisão política. O fato é que, em ano de eleição, todos os cidadãos acabam sendo afetados, ainda que não queiram.

Em cidades pequenas, por exemplo, é comum que o prefeito e cada vereador apareçam com o seu candidato, muitas das vezes, escolhido sem nenhum critério ideológico, mas apenas por esse candidato ter oferecido certa quantia em dinheiro pelo apoio, numa espécie de leilão, onde só quem perde é o povo.

Diante dessas situações, resta aos eleitores seguir uma dica muito sábia: analise muito bem as alianças políticas de cada candidato, pois essa é uma variável extremamente importante no atual sistema brasileiro de apuração dos votos para deputado e vereador, o chamado Sistema Proporcional de Lista Aberta. Esse formato valoriza o coletivo, o que é excelente, mas, como infelizmente, muitas pessoas não entendem o seu funcionamento, abre espaço para que haja algumas distorções. Para aqueles que ainda não conhecem, segue uma explicação resumida.

Suponhamos que um estado hipotético tem 1.000 eleitores e 10 vagas de deputado federal. Assim sendo, cada vaga na Câmara corresponde a 100 votos (1.000 dividido por 100, o que é chamado também de quociente eleitoral). Suponhamos, ainda, que o Partido A, tinha 8 candidatos concorrendo a essa eleição e, somando-se os votos de todos esses candidatos juntos, esse partido obteve 200 votos. Nessa suposição, o Partido A conseguiria duas vagas (também chamado de quociente partidário) na Câmara, e os dois candidatos mais votados desse partido seriam eleitos, mesmo que o mais votado tenha obtido apenas, digamos, cinquenta votos, e o segundo, quarenta. É por isso que alguns candidatos populares (e, muitas vezes, sem nenhuma ideologia) são disputados por alguns partidos, porque são potenciais “puxadores de votos”. Foi o caso, por exemplo, de Tiririca, em São Paulo, que em 2010 garantiu, além da dele, mais três vagas da sua coligação para a câmara.

Se analisarmos de maneira sensata, a ideia do sistema é muito boa, por valorizar o grupo, e é preciso compreendermos que política é um processo eminentemente coletivo. No exemplo ilustrativo citado acima, quando um eleitor vota em um candidato do Partido A, não está votando simplesmente nesse candidato, mas, indiretamente, nos oito que compõem aquele grupo ou coligação da qual aquele partido faz parte, pois quando dois ou mais partidos formam uma chapa coligada, o cálculo é feito como sendo um grupo só. Ou seja: o voto dado a um deputado de um partido pode ajudar a eleger o candidato do outro partido daquela coligação. Quem votou em Tiririca, não votou apenas em Tiririca. Assim sendo, é preciso analisar muito bem, não somente o candidato, mas os demais candidatos daquele partido e dos partidos que compõem toda a chapa, para que não corramos o risco de levarmos gato por lebre.

O que é de se lamentar, no entanto, é que haja pouca informação sobre esse sistema e que muitos eleitores não tenham conhecimento do sistema político vigente no país, uma informação que poderia [e deveria] ser ensinada nas escolas.

É importante destacar que os deputados e senadores são tão ou mais importantes que o presidente da república, para o desenvolvimento e bom funcionamento de um país; nós, brasileiros, aprendemos isso a duros golpes, após a queda de Dilma Roussef, em 2016. Para esta e as próximas eleições, precisamos ficar muito atentos, e quando qualquer pessoa nos vier apresentar um postulante a deputado e pedir nosso voto, é preciso analisar vários aspectos, mas um deles é fundamental. Faça uma pergunta simples e objetiva para o candidato em questão: diz-me com quem andas?

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